Empresas imobiliárias e do agronegócio contribuíram com quase 40% das doações aos mais votados de Ribeirão.


Para especialista em ética, doações refletem o interesse dos setores em obter benefícios a partir dos políticos

Os setores imobiliário e do agronegócio foram responsáveis pela doação de R$ 3,1 milhões para as campanhas dos oito candidatos a deputado federal e estadual mais bem votados e que mais arrecadaram nas eleições de outubro em Ribeirão Preto.

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O montante representa quase 40% de toda a receita obtida pelos políticos por meio de doações para pagar os gastos de campanha.

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Para alguns candidatos --eleitos e derrotados--, os setores correspondem a quase metade de toda a doação.

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Os dados são da última prestação de contas apresentada pelos partidos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

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Para o professor de ética da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Roberto Romano, as doações de empresas refletem o interesse do setor em conseguir benefícios. "[As doações] fazem com que os parlamentares sejam lobistas em prol desses setores", disse o professor.

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Segundo ele, é preciso haver uma reforma política e, sobretudo, que nela seja proposta a regulamentação do lobby no Brasil. "As empresas fazem doações aos candidatos para que representem e zelem pelos seus interesses", afirmou Romano.

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SETORES

Os candidatos receberam recursos de usinas, cooperativas de produtores, cooperativas de crédito voltadas ao agronegócio e grupos ligados à citricultura.

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Também há empresas da área da construção civil e empreendimentos imobiliários.

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Ao todo, os políticos de Ribeirão arrecadaram R$ 8,067 milhões, que incluem verbas de partido, pessoas físicas, indústrias de outros setores, prestadores de serviços e doações de comitês de aliados.

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O deputado federal reeleito Duarte Nogueira (PSDB) teve uma receita de R$ 4,4 milhões, a maior entre os avaliados. Desse total, 43% foram doados por empresários dos ramos imobiliário e do agronegócio.

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O vereador e candidato a deputado estadual derrotado Maurílio Romano (PP) teve 59% das doações vindas desses dois setores.

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Segundo ele, a "ajuda" desses empresários é resultado da sua rede de relacionamento. "Não vejo problemas. São pessoas que acreditam no meu potencial", disse.

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O deputado federal eleito Baleia Rossi (PMDB), que foi o segundo com maior arrecadação --R$ 1,6 milhão-- teve 32% de sua receita vinda de empresários dessas áreas.

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PROXIMIDADE

Para o deputado estadual reeleito Welson Gasparini (PSDB), as doações que recebeu são resultado de sua proximidade com o setor. "Tenho buscado ajudar bastante o agronegócio na região."

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Integrante da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético, na Assembleia Legislativa, ele arrecadou R$ 447 mil, sendo que 44% foram doados por empresários desses ramos.

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Ricardo Silva (PDT), vereador que não conseguiu uma vaga nas eleições como deputado federal, teve 29% de suas doações de empresários.

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"Várias empresas doam, mas isso não interfere na minha conduta como político", disse o pedetista.

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Os candidatos a deputado estadual Rafael Silva (PDT), reeleito, Léo Oliveira (PMDB), eleito, e o vereador e candidato a deputado estadual derrotado Samuel Zanferdini (PMDB), tiveram os menores percentuais de doações dos setores imobiliário e do agronegócio: 7,7%, 9,9% e 6,3%, respectivamente.

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"O modelo que nós temos hoje para financiamento de campanha é este. Não vejo problemas", disse Oliveira.

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Procurados pela reportagem, Silva, Zanferdini, Duarte Nogueira e Baleia Rossi não foram encontrados para comentar o assunto.