A 63ª Sondagem Nacional da Indústria da Construção Civil, realizada pelo SindusCon-SP em maio, mostra que se agravou o pessimismo dos empresários do setor. A perspectiva de desempenho das empresas da construção atingiu o menor nível em quase 16 anos, passando de 37,1 para 35,9 pontos - quedas de 3,2%, na comparação com o levantamento realizado em fevereiro, e de 19,7% em 12 meses.

Apurada trimestralmente pelo SindusCon-SP desde agosto de 1999, a sondagem segue uma escala que vai de “0” a “100”, tendo o valor “50” como centro. Ou seja, abaixo de “50” pode ser interpretado como um desempenho não favorável. A exceção fica apenas por conta do item dificuldades financeiras, cujos valores abaixo de “50” significam dificuldades menores.

Os resultados refletem o agravamento das expectativas dos empresários da construção diante da crise econômica nos primeiros meses do ano, quando foram anunciados cortes no orçamento da União - de R$ 25,7 bilhões no PAC e de R$ 5,6 bilhões no Minha Casa, Minha Vida. “As empresas vivenciaram um período de crescimento forte no setor até 2013 e muitas investiram com a perspectiva que o desenvolvimento fosse mais sustentado. O cenário no curto prazo está deteriorado”, explica o presidente do sindicato José Romeu Ferraz Neto. “Soma-se a isso a forte restrição ao crédito e o aumento da inflação, dos juros e do desemprego”.

O SindusCon-SP avalia que esse panorama pode mudar no médio prazo com o recente anúncio do governo federal de investimento de R$ 198,4 bilhões da nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL), aliado à mudança nas regras do depósito compulsório, que liberou R$ 22,5 bilhões da poupança para financiamentos imobiliários, e a injeção de R$ 4,9 bilhões por meio da linha Pró-Cotista do Fundo Garantidor do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Outros indicadores – A avaliação dos empresários com relação ao desempenho atual de suas companhias recuou de 37,7 para 34,5 pontos. O resultado representa uma queda de 8,6% em relação ao levantamento anterior, realizado em fevereiro, e de 22,7% em 12 meses, atingindo o pior patamar desde novembro de 1999. A deterioração é superior, inclusive, à observada em outros momentos difíceis do país, como em 2003, quando o PIB da construção apresentou retração de 8,9%.

Para o resultado negativo desse indicador contribuiu especialmente o quesito situação do emprego. Em abril, as empresas da construção já registraram retração de 9,2% no estoque de trabalhadores, com a demissão de mais de 300 mil trabalhadores em 12 meses, segundo dados da pesquisa de emprego do SindusCon-SP.

A percepção das construtoras sobre a condução da política econômica, por outro lado, apresentou melhora de 11,1% frente à sondagem anterior, mas ainda se encontra em um patamar negativo, avançando de 24,9 para 27,7 pontos. Para Ferraz Neto, o governo precisa fazer mais para reverter esse cenário, além das concessões anunciadas. “A não redução da desoneração da folha de pagamento da construção e a adoção de uma agenda de estímulo ao aumento da produtividade e da competitividade do setor são dois bons exemplos."

O indicador de dificuldades financeiras atingiu o pior nível já registrado pela pesquisa desde seu lançamento, em agosto de 1999, saltando de 60,5 para 69,7 pontos. A piora confirma que o crédito está mais caro e mais difícil para os empresários.

Sobre custos setoriais, o número ficou em patamar próximo do apresentado no ano passado, mas indicou uma percepção negativa - reflexo da situação difícil das empresas. Apesar da menor dificuldade para contratação de mão de obra, a inflação em alta teve um peso maior para as empresas. Outros itens cuja piora foi acentuada são inflação reduzida (-12,6%) e crescimento econômico (-5,6%), que recuaram de 20,9 para 18,3 pontos e de 13,2 para 12,4 pontos, respectivamente.