Ribeirão Preto (SP) ganhou oito mil habitantes em um ano e saltou para um conglomerado de 666.323 pessoas em 2015, segundo estimativa recém-divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. O crescimento demográfico, no entanto, revela falta de políticas públicas para a qualidade de vida da população, principalmente em questões como moradia e mobilidade, analisa a arquiteta e urbanista Vera Migliorini.

Do ano passado para cá, o município ganhou mais de 8 mil habitantes, segundo o instituto. Nos últimos 15 anos, o crescimento ultrapassa 160 mil, o que representa aumento demográfico de 32% no período. A estimativa do IBGE é de que Ribeirão atinja 1 milhão de habitantes em 30 anos.

Embora não haja um levantamento específico sobre as variações populacionais em diferentes regiões da cidade, a arquiteta acredita que no caso de Ribeirão Preto o crescimento está concentrado nos bairros mais pobres, que sem uma estrutura adequada acabam forçando condições de criações de assentamentos irregulares.

“As regiões mais pobres permanecem paradas. Existe uma série de empreendimentos dos programas habitacionais que estão sendo feitos, mas sabemos que é muito aquém da demanda. Por isso, há um crescimento muito grande dos assentamentos precários também. Apesar de termos um plano local de habitação social, vemos que pouquíssimo foi executado. Nos assentamentos precários, só se trabalhou com aqueles que deveriam ser removidos, e tal remoção foi feita sem amparo social nenhum”, explica Vera.

A arquiteta também destaca que grande parte da população carente não conta com infraestrutura suficiente para esporte e lazer, por exemplo. Dessa forma, essa fatia de moradores depende de equipamentos localizados nos setores mais nobres da cidade, o que coloca em evidência outro problema: a mobilidade urbana.

“Para irem até esses locais, como parques e áreas de lazer, por exemplo, eles precisam do transporte coletivo, que também é negligenciado na cidade. A gente sabe que existe um plano de mobilidade em vias de implementação, mas que não foi discutido. A gente não conhece muito sobre esse plano, mas é evidente que não coloca o transporte coletivo como prioridade”, explica.

Para Vera, falta ainda investir em termos de mobilidade não só para as áreas mais pobres, mas para o município como um todo. “Nossa questão da mobilidade está muito mal resolvida. Precisamos de um transporte coletivo que funcione e desestimule as pessoas a saírem de carro. Isso a gente não vê. A primeira opção das pessoas ou é comprar seu carro ou uma motocicleta, porque o transporte coletivo do jeito que esta não dá conta”, diz.

Falta de vontade

A arquiteta acredita que o problema da falta de políticas públicas para oferecer melhores condições de vida à população está na falta de vontade dos agentes políticos. “Saber o que tem que ser feito os técnicos da prefeitura sabem e têm instrumentos para isso. O problema é vontade politica, a gente não vê do ponto de vista dos executores um desejo de fazer com que a cidade seja gerida para tentar, no mínimo, diminuir essas pressões e problemas”, diz.

Crescimento previsto

Em nota, a Prefeitura informou que o crescimento habitacional em Ribeirão Preto já estava previsto, e que há projetos de investimentos no município para atender a necessidade de novos moradores.