Só este ano, a CEF leiloou quase nove mil imóveis. Proprietários não conseguem honrar com o contrato de financiamento.

O momento parece bom para quem pretende comprar um imóvel, mas tem muita gente que comprou e teve que devolver, porque não conseguiu pagar como previsto. A Caixa Econômica Federal leiloou 66,8% a mais de imóveis de janeiro a agosto deste ano do que no mesmo período do ano passado. Foram 5334 imóveis em 2014 e 8897 em 2015.

Os preços em baixa, as promessas de desconto, tudo isso entusiasma quem procura um imóvel para comprar. O contador Daniel Patricio Chieste tentou comprar um apartamento, planejou pagar uma entrada de 10% e financiar o resto. Porém, as regras mudaram no meio das negociações, quando muitos bancos limitaram o financiamento a 80% do preço. O valor da entrada dobrou e Daniel desistiu. “O sonho tá adiado e futuramente vou comprar outro imóvel”, afirma.

Existem ainda os casos de pessoas que financiaram, começaram a quitar as prestações e, às vezes, até já moravam na casa nova, mas que, depois, por falta de pagamento, perderam o imóvel e o dinheiro que já haviam investido. Só em Minas Gerais, são 400 histórias como essa a cada mês.

“Faltou planejamento financeiro para a maioria das famílias brasileiras. Existe muito a cultura do imediatismo, a prestação cabe hoje no meu orçamento, eu consigo pagar ela hoje, e esquece que o contrato é de 20, 25, 30, até 35 anos. Uma inadimplência superior a três meses faz com que o banco retome esse imóvel, absorva ele e venda para terceiros em leilão”, explica Silvio Saldanha, presidente da Associação de Mutuários e Moradores de MG.

Para não cair nessa, Silvio recomenda cautela: “É importante esse passo a passo, não sai do zero para 400, do 0 pro 500. Sai do zero para apartamento de 200. Entra nesse apartamento, vai pagando. Quitou? Inclusive ele serve como moeda de troca, muitos construtores hoje aceitam como moeda de troca na compra de um novo”.

A estudante Rafaela de Assis Carvalho Delazário mora com o marido e o filho, Cauã, em uma casa de dois quartos, mas o sonho da família é um lugar maior, com três quartos. Só que ela tem medo de dar um passo maior que as pernas e pretende ir aos poucos: “Não cabia no nosso orçamento. A gente não ia conseguir honrar com os pagamentos, aí a gente conseguiu achar uma casa que se enquadrasse no valor que a gente poderia pagar”.