O consórcio imobiliário agora está em pé de igualdade com o financiamento habitacional, pelo menos no que diz respeito à utilização de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Em 15 de dezembro, o governo autorizou a utilização do saldo do Fundo para quitar consórcios ou adiantar o pagamento de parcelas, da mesma forma que já ocorria com o financiamento imobiliário. A mudança ainda depende da regulamentação pela Caixa, que tem até meados de março para se adaptar às novas regras.

Muitos usam o FGTS para quitar o saldo do consórcio (Foto: Verônica Lima)

Muitos usam o FGTS para quitar o saldo do consórcio (Foto: Verônica Lima)

Existem no País 533,7 mil participantes de consórcios imobiliários e aqueles que estiverem em condições de usar o FGTS vão se beneficiar da medida. Antes, eles só poderiam usar o saldo do FGTS quando contemplados, para dar um lance ou completar o valor do imóvel que seria adquirido com a carta de crédito. Agora vão poder usar para adiantar até 12 parcelas ou quitar o saldo do consórcio.

Para poder usar os recursos do fundo, no entanto, os consorciados precisam seguir as regras do FGTS. O saldo só pode ser usado por trabalhadores com no mínimo três anos de contribuição. O mutuário não pode ter outro imóvel adquirido com recursos do Fundo no mesmo município, respeitar o limite de R$ 500 mil para a compra de imóvel e não ter mais de três parcelas em atraso.

Com essas mudanças, a procura por consórcios deve crescer 15% neste ano em relação ao ano passado, de acordo com projeção da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC). Isso significa uma injeção de R$ 5,76 bilhões no mercado imobiliário do País, equivalente à contemplação de 72 mil cartas de crédito. “Revisamos a nossa previsão de crescimento de 10% para 15% em 2010, após essas novas medidas”, afirma o presidente da ABAC em São Paulo, Luiz Fernando Savian.

O gerente regional de vendas da administradora de consórcios imobiliários Embracon, Rogério Dutra, explica que caso os adiantamentos e quitações de consórcios aumentem, o número de contemplados também deve subir. “Todos se beneficiam quando há mais arrecadação no grupo de consórcio”, diz. A Embracon projeta crescimento de 35% para este ano, igual ao registrado no ano passado, quando foram vendidos R$ 1,7 bilhão em cartas de crédito.

Outra administradora que prevê crescimento é a Rodobens. “Projetamos crescer de 10% a 15% em relação ao ano passado, com vendas de crédito de R$ 1 bilhão”, diz o diretor executivo da Rodobens, Sebastião Cirelli.

O empresário Ricardo de Paula Eduardo optou por dois consórcios de R$ 100 mil para adquirir a sua casa há quatro anos. “Fiz a conta e percebi que o consórcio seria mais vantajoso que o financiamento”, diz. Atualmente, Eduardo paga quatro consórcios para comprar um galpão para sua empresa de eventos. “Tenho quatro cartas de crédito de R$ 100 mil”, diz.

EM NÚMEROS:
R$ 4,984
BILHÕES
em contemplações foram injetados no mercado imobiliário em 2009 por meio de consórcios

72
MIL
novas cartas de crédito imobiliário devem ser contempladas este ano no País

SEM JUROS, MAS COM TAXAS E FUNDO DE RESERVA - Na hora de escolher um consórcio como forma de aquisição de imóvel, o consumidor deve comparar a modalidade com a opção mais praticada no mercado, o financiamento.

Apesar de não ter juros, o consórcio possui taxas de administração e de composição do fundo de reservas, que respondem por parte das parcelas. Essas taxas devem ser comparadas com os juros cobrados no financiamento, de acordo com o consultor do Instituto de Educação Financeira Disop, Francis Hesse. “O consumidor precisa perguntar à administradora quanto vai pagar em taxas a cada parcela”, diz. Comparados aos financiamentos, os consórcios oferecem prazos menores de pagamento. Os planos mais longos oferecidos no mercado chegam a 180 meses, ante até 300 meses de financiamentos imobiliários. Por isso, as parcelas, não chegam a valores tão baixos quanto nos financiamentos mais longos.

Em compensação, os consórcios não exigem uma entrada, que em geral é de 20% do valor do imóvel, nos financiamentos. A modalidade também permite mais flexibilidade, já que a carta de crédito pode ser usada para compra de imóvel residencial ou comercial, ou até mesmo para a construção.

Outra questão a ser avaliada é a necessidade do imóvel. Se o consumidor tem pressa, o consórcio não é indicado. “Se a pessoa precisa do imóvel para sair do aluguel, o mais indicado é um financiamento”, diz Hesse.

Para o consultor, o consórcio é um bom negócio para quem é contemplado logo no início. “É interessante saber se poderá dar um lance”, diz. Quem fica no final do consórcio de 120 meses, por exemplo, além de demorar 10 anos para comprar seu imóvel, paga taxa de administração por um dinheiro que, se fosse aplicado, renderia juros. Daí a necessidade de avaliar se a taxa cobrada pela administradora compensa os juros que seriam pagos no financiamento.

Para Emerson Castelo Branco Simenes, da CBS Consultoria Financeira, o consórcio deixou de ser um bom negócio depois que as taxas de juros caíram. “Hoje eu não vejo outra alternativa que seja mais interessante que financiamento”, diz. Como vantagens do financiamento, além do prazo, Simenes cita o sistema de parcelas do financiamento, que é decrescente, enquanto no consórcio as mensalidades crescem ao longo do plano.

CUIDADOS - Antes de entrar em um consórcio, o consumidor precisa ficar atento à qualidade da administradora que vai contratar. A lista de empresas autorizadas pode ser encontrada no site do Banco Central (www.bcb.gov.br) na seção Serviços ao Cidadão.

Ao contratar a administradora, leia com atenção o contrato. O Procon alerta que não existe a venda de cotas contempladas, ainda oferecidas por alguns vendedores.